Então ele abriu seus velhos livros de Arquitetura & História da Arte e no capítulo “A Arte da Guerra” encontrou o que estava a procurar. Um projeto de execução de uma catapulta capaz de lançar bolas incendiárias a uma distância de 3 km. Pensou “Oras, pode ser facilmente adaptada para laçar estrelas para o céu, só precisa de um pouco mais de alcance. O ponto aqui é a propulsão, o arremesso feito por uma corda jamais alcançaria as estrelas, preciso de um combustível muito mais potente.” E o que seria mais potente que a própria matéria prima que se gostaria de arremessar? O próprio brilho e força das estrelas seria capaz de executar tal tarefa, mas primeiro seria necessário encontrar aqui na Terra alguma estrela que quisesse ser arremessada e mais ainda, estivesse disposta a fornecer a energia necessária para erguer a si mesma a tal altitude.
Pegou sua redinha de caçar borboletas e pôs-se a caminho da cidade enquanto pensava como iria fazer para encontrar tais estrelas. “Não dá pra usar os sorrisos das crianças, elas ainda não estão maduras o suficiente para irem para o céu. Preciso de algo com brilho intenso e ao mesmo tempo que esteja maduro. Mas onde encontrarei tal material raro?”
Após exaustivas horas procurando sem nada de valor encontrar, sentou-se numa pedra à beira de um pequeno riacho congelado e se abraçou para evitar um pouco do frio cortante que por ali passeava.
Sem maiores avisos uma jovem moça de sorriso radiante e brilho no olhar se aproximou e vendo-o com frio, ofereceu seu manto para que ele se aquecesse; era bonito de ver a compaixão dessa pessoa. Agradecido e com seus músculos enrijecidos pelo frio, levantou-se com dificuldade e colheu alguns gravetos secos pelo chão a fim de acender um pequeno fogo e preparar um pouco de chá para os dois. A jovem já havia escolhido um lugar confortável sobre uma pilha de folhas secas e um tronco e se sentara. O fogo foi aceso e o carpinteiro contou-lhe o que lhe sucedera ate então e a moça prestativa e bondosa resolveu ajudá-lo.
“Você não encontrará esse material tão raro e incandescente assim na rua.“ Disse a jovem após tragar um longo gole de chá. “Você terá de prepará-lo. Pegar o material bruto e poli-lo até que brilhe como um cristal.”
- Mas como hei de fazê-lo? A luz intensa irá certamente me cegar.
- Não se seu brilho for equivalente. Assim você já estará acostumado com essa luz e não mais se cegará. – Disse ela numa voz suave.
- E como posso eu polir a mim mesmo? Tenho eu dentro de mim também o brilho das estrelas?
- O senhor já teve o brilho no sorriso quando era criança? – perguntou ela.
- Sim.
- Então está tudo ai; só um pouco empoeirado e opaco talvez. Nada que uma boa polida não resolva.
O carpinteiro sorveu o chá lentamente, deixando que o líquido quente escoasse para dentro de si como se fosse uma boa e prazerosa idéia.
- Já sei – disse ele num impulso. – Irei polir a mim mesmo tanto quanto possível ao passo que irei polindo também minha matéria prima. Assim cresceremos juntas em brilho e serei capaz de polir tanto quanto minhas forças me permitirem. Ah. Deveria ter escolhido o ofício de serralheiro, eles sim sabem como polir o metal.
- Mas o material que irá usar é muito mais raro do que simples ouro ou outro metal comum, é mais do que diamante, é algo inteiramente novo. E terá de desenvolver por si mesmo um ofício completamente novo para lidar com tal maravilha.
- E assim será. – disse ele serenamente, satisfeito por ter compreendido um pouco mais sobre a tarefa a qual se propusera...
(Continua)