Pode-se dizer que o grupo tem 3 pilastras fundamentais para o seu funcionamento pleno. Essas pilastras podem ser divididas em
papéis ou objetivos fundamentais.
O primeiro papel fundamental é o do Dirigente. No grupo quem
cumpre esse papel é o Marcel. Essa função foi se criando e solidificando ao
longo do estudo pessoal e da busca interna dele. Se cristalizou quando
participou de 2 outros grupos que utilizavam o chá para o conhecimento de si
mesmo até que percebeu ser capaz de liderar um grupo sozinho. A IOA foi criada
em 2005 como sendo uma escola onde as pessoas poderiam aprender formas e jeitos
de se melhorar e melhorar sua vida. Mas, a IOA foi criada para um fim e tem
objetivos bastante definidos. O mais importante deles é ser um local onde as
pessoas podem aprender o quanto elas podem mudar sua vida e como fazer isso,
sendo utilizada uma metodologia baseada em explicações e ensinamentos onde o
membro pode ter toda a bagagem intelectual e emocional que ele precisa para
poder entender e compreender a si mesmo. Esse é o primeiro passo para o
objetivo ser cumprido em toda sua totalidade.
Para realizar o primeiro papel fundamental, existe um segundo
papel que é o uso da ferramenta Ayahuasca que nos dá a capacidade de ampliação de
consciência. Essa ferramenta é utilizada em um processo de conhecimento de si
mesmo pois ela carrega consigo este caráter de aguçar nossa percepção de
maneira clara e bastante calma. Isso é imprecindível em um trabalho onde um dos
objetivos é o conhecimento de si mesmo, pois com a facilidade que ele nos dá de
explorar nossa sensibilidade, conteúdos e ensinamentos são melhores entendidos
e compreendidos. E também essa ferramenta cumpre o papel de dar a capacidade de
diminuir a resistência do indivíduo diante das coisas, de si mesmo e dos
conteúdos abordados em sessão, o que facilita e permite que o primeiro papel
fundamental seja cumprido de forma equilibrada e continua.
O chá também trás para a pessoa e o
contexto de trabalho, um aprendizado enorme sobre ela mesma. Com a sua capacidade
de aflorar sentimentos e sensações que vivemos escondendo, faz com que tenhamos
a necessidade de trabalhar esses sentimentos. O ambiente do grupo é todo
voltado para que essas sensações tenham um espaço ideal para aflorarem e serem
trabalhadas com calma e firmeza. Para isso é necessário a bagagem intelectual,
emocional e as facilidades que a ferramenta nos dá.
O que gera dúvida a respeito dessa ferramenta é o seu papel em
um trabalho como o nosso. Constantemente podemos ver grupos e pessoas que trabalham
com o chá e não são pessoas melhores, não mudam de vida. Porque isso acontece?
Porque o chá por si mesmo, o efeito dele por si mesmo, não muda uma pessoa. O
chá em união com o objetivo de um dirigente em trazer entendimento e
compreensão sobre a vida não muda uma pessoa, não muda uma vida. O objetivo de
um dirigente por si só não muda uma pessoa. O que muda efetivamente é a união
estável com um terceiro papel fundamental, que é o papel do membro da IOA.
Esse é um dos papéis mais importantes e difíceis. A responsabilidade
fundamental do membro é fazer um trabalho interno alinhado com o objetivo do
grupo. Isso é dessa forma porque as pessoas que aparecem em um trabalho como
esse vieram buscando algo ou alguma coisa. É importante o Membro ter sempre
isso em mente. Para encontrar o que busca é fundamental ter comprometimento
consigo e com os outros, vontade e o querer buscar e encontrar.
Em um primeiro momento é importante que o membro crie uma
bagagem intelectual e emocional sólida que será feito de forma passiva, onde a
maior parte do tempo será ouvindo os conteúdos.
Mas, pode-se perceber que se o intuito é se conhecer, ouvir
por ouvir não mudará você e muito menos a sua vida. Nesse momento se inicia o
trabalho consigo mesmo.
Gurdjieff, um mestre russo, diz que o indivíduo só entende um
conteúdo quando ele trabalha em cima deste com o objetivo de entende-lo de
verdade em toda sua complexidade. É importante que a pessoa queira saber mais a
partir do conteúdo escutado para que esse processo ocorra de forma completa. Ao
ouvir você precisa estar atento, depois deverá existir toda uma reflexão em
cima do conteúdo. Ver, perceber, sentir como ele se encaixaria em sua vida e
quais as consequências esse conteúdo trás a você (seus lados positivos e
negativos, por exemplo), até ele ser maturado e interiorizado por completo. Até
esse momento acontecer, o que pode ser rápido ou demorar algum tempo, você não
pode dizer que sabe sobre aquilo.
Muitos membros que já passaram pelo grupo não tiveram
paciência ou capacidade interna de esperar o tempo que o seu intelecto e sua
percepção demorariam para entender certos conceitos e colocaram a culpa no
grupo. O membro também tem como função perceber e entender de maneira sadia que
ele não vai entender tudo sempre, que ele tem limitações, mas que elas podem
ser ultrapassadas com o tempo e com essa conduta de “querer entender mais”, de
querer mudar sua vida. Em muitas ocasiões as coisas vão parecer fora de lugar,
mas o trabalho é assim mesmo. Essa é uma medida que você pode usar de
referencia como demonstração de que o trabalho está acontecendo, está surgindo
uma mudança. É necessário esse processo de limpeza e auto-conhecimento antes de
adquirir novos conhecimentos. Esse é o momento de ser humilde e persistente.
Essa é a posição inicial que um membro ocupa ao adentrar num
trabalho como esse. Isso dura diferentes tempos de acordo com cada pessoa.
Depois que o membro tiver um pouco mais de percepção e
compreensão de algumas coisas, a necessidade se torna cumprir um papel mais
ativo diante de sua própria vida e diante das outras pessoas (muitas delas,
fora do grupo). Nesse momento fica mais claro o conceito de que a IOA é uma
escola. Aqui você encontrará todo o ensinamento necessário para sua reflexão e compreensão,
como se fossem dadas aulas de auto-conhecimento. Esse conhecimento será mais
para frente testado pela própria vida, nesse caso serão dificuldades ou
problemas (pessoais, internos ou externos).
Diante de todo o trabalho você irá perceber que a vida irá
colocar dificuldades das mais diversas. Cabe a você tomar a postura ativa e
mostrar que sabe agir a respeito. Isso só cabe a você. O tempo que demora para
acontecer essa maturidade interior de ser capaz de resolver seus próprios
problemas, cabe a você modificar O problema e a vida como um todo exige coragem
e é nesse momento que você irá mostrar a que veio. Irá encarar seus medos e
resolverá sua vida. Você tem toda bagagem intelectual e emocional que vai
precisar para usar nesses momentos, mas é preciso agir. Caso não exista essa
atitude, não haverá mudança. Esse é um dos preços que nós pagamos por estarmos
em um trabalho como esse. Temos a oportunidade de mostrar a todo momento que somos senhores de
si mesmos em todo o poder que isso tem. Posso dizer com toda a certeza que isso
não é nem um pouco fácil e que em vários momentos para conseguir resolver essas
questões será necessário assumir coisas que você não queira. Em geral a solução
do problema está em mudar aquilo que você não quer assumir.
Mas assumir e seguir em frente também faz parte de uma postura
ativa e madura. Birras, choros, brigas só vão distanciar você do objetivo que
você tinha ao procurar um grupo como esse.
Esse é o papel mais difícil, pois o que você desconhece lhe dá
medo e muitas das coisas que acontecem em sua vida podem parecer ao acaso, sem
sentido, mascarado de sensações diferentes. Darei um exemplo: muitos problemas
são colocados pela sua mente que é funciona de maneira automática e portanto
não evolui.
Nossa mente é como um filtro que simplifica a realidade e
limita as experiências.
Em um contexto de grupo, um problema que acontece muito é o
processo de transferência, que é o processo que acontece quando você não
consegue lidar muito bem com você mesmo e isso acaba “escapando” de você e é
transferido para as pessoas que estão mais perto. Muitas vezes você pode
perceber que irá sentir raiva, culpa, rejeição, como se alguém estivesse
ativamente fazendo você sentir assim, mas pelo contrário, isso é algo que tem dentro
de você que se espalha para que você enxergue com maior amplitude e consiga
resolver de outra maneira, de fora para dentro (já que de dentro para fora não
é possível muitas vezes). Isso tudo é uma das manifestações que sua mente pode
criar para te distanciar da evolução que você tanto quer desde que entrou no
grupo. Esse é só um exemplo, mas isso pode acontecer de outras maneiras também,
como a necessidade quase visceral de chamar a atenção dos outros, sendo com
choro, birra, pedindo colo ou necessitando aprovação alheia em tudo, tanto com
os dirigentes quanto entre as pessoas membras do grupo.
Isso é natural que aconteça e até nisso o grupo tem papel
fundamental, pois se não houvesse esse contexto de grupo, certas percepções
externalizadas de si mesmo ficariam impossíveis.
Pode-se perceber que talvez o ambiente do grupo e todo esse
trabalho pode parecer desconfortável. E na verdade é. É importante que seja,
porque enquanto está tudo gostoso e tranquilo nós temos a tendência em acomodar
e ficarmos parados e iludidos. Em muitos momentos você irá sentir esse
desconforto e vai aparecer para você 2 opções, sair do grupo, fugir, reclamar,
brigar, ou aceitar, entender, buscar ultrapassar o desconforto, transcender e
evoluir.
Você pode ter como parâmetro pessoal que todas as sensações
devem ter um equilíbrio. Se alguma sensação está em algum momento
demasiadamente exagerada é essa sensação que precisa de atenção, trabalho e
entendimento. Não existe uma regra, o trabalho é contínuo e mutável. Quando
você tiver um pouco mais de controle e conhecimento sobre si, esse trabalho
também poderá ser controlado e maleável de acordo com a sua vontade.
É muito importante que o membro busque trabalhos auxiliares
nesse momento. Terapias, grupos terapêuticos e leitura são essências.
Também é de extrema importância que o membro pense com
bastante amor e calma se ele realmente deseja um trabalho como esse. Ao mesmo
tempo que o grupo dá toda a base que ele precisa isso tem uma troca criando uma
grande egrégora, cada um que falta ou sai causa uma perturbação muito grande
nas pessoas que ficam.
Todo esse esforço tem uma grande recompensa que é o objetivo
final desses três pilares juntos que é a felicidade plena e libertação interna.
Isso vai acontecendo em níveis conforme os obstáculos vão sendo superados, cada
vez que uma dificuldade é superada de maneira humilde e comprometida uma nova
porta se abre e você se ganha um pouco mais. E isso acontece em todos os
âmbitos da vidas, no profissional, no afetivo, familiar e principalmente no seu
mundo pessoal. É um trabalho árduo mas é só uma fase inicial que dura uns
poucos anos e que ao longo deste tempo você poderá fazer checagens para
perceber e notar o quanto disso já melhorou e está estável!
Esse trabalho é uma escolha que a pessoa pode fazer a qualquer
momento da vida e funciona como um investimento, quanto se ganha é proporcional
ao quanto se dá.
E essa aproximação de si mesmo é em última instancia
aproximação de Deus.
Texto por Valéria A. Rocchetti (membra ativa da IOA desde 2008)
Foto: Google
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