sexta-feira, 30 de julho de 2010

Os diferentes



Diferente não é quem o pretenda ser. Este é um imitador do que ainda não foi imitado, nunca um ser diferente.
Diferente é quem foi dotado de alguns mais e de alguns menos em hora, momento e lugar errado. Para os outros que ficam de inveja de não serem assim. E de medo de não aguentarem, caso um dia venham a ser. O diferente é sempre um ser mais próximo da perfeição.
O diferente nunca é um chato. Mas é sempre confundido com ele por pessoas menos sensíveis e avisadas. Supondo encontrar um chato onde está um diferente.
Talentos são rechaçados; vitórias são adiadas; esperanças são mortas. Um diferente medroso, este sim acaba transformando-se num chato. Chato é um diferente que não vingou.
Os diferentes muito inteligentes entendem porque os outros não os entendem. Os diferentes raivosos acabam tendo razão sozinhos, contra o mundo inteiro. Diferente que se preza entende o porquê de quem agride.
O diferente paga sempre o preço de estar – mesmo sem o querer – alterando algo, ameaçando rebanhos, carneiros e pastores.
O diferente aguenta no lombo a ira do irremediavelmente igual; a inveja do comum; o ódio do mediano. O verdadeiro diferente sabe que nunca tem razão mas sempre está certo.
O diferente começa a sofrer cedo, desde o primário escolar, onde todos os demais de mãos dadas, e até mesmo alguns professores por omissão, se unem para transformar o que é peculiaridade e potencial, em aleijão e caricatura. O que é percepção aguçada em – “puxa, Fulano, como você é complicado” – O que é o embrião de um estilo próprio em – “você não está vendo como todo mundo faz?”.
O diferente carrega desde cedo apelidos e marcações nos quais acaba se transformando. Só os diferentes mais fortes do que o mundo se transformam nos seus grandes modificadores.
Diferente é o que vê mais longe do que o consenso. O que sente antes mesmo dos demais começarem a perceber. Diferente é o que se emociona enquanto todos em torno agridem e gargalham.
Diferente é o que fica doendo onde a alegria impera. Chora onde outros xingam; estuda onde outros burram. Quer onde outros cansam. Espera de onde já não vem. Sonha entre realistas. Concretiza entre sonhadores. Fala de leite em reunião de bêbados. Cria onde hábito rotinizara. Sofre onde os outros ganham. Aceita empregos que ninguém supunha. Perde horas em coisas que só ele sabe importantes. Engorda onde não deve. Diz sempre na hora de calar. Cala sempre nas horas erradas. Não desiste de lutar pela harmonia.Fala de amor no meio da guerra. Deixa o adversário fazer o gol porque gosta mais de jogar do que de ganhar.
Diferente é o que aprendeu a superar o riso, o deboche, o escárnio e a consciência dolorosa de que a média é má porque é igual.
Os diferentes aí estão: enfermos, paralíticos, machucados, engordados, magros demais, bonitos demais, inteligentes em excesso, bons demais para aquele cargo, excepcionais, narigudos, barrigudos, joelhudos, de pé grande, feios, de roupas erradas, cheios de espinha, de mumunha, de malícia ou de baba. Os diferentes aí estão, doendo e doendo, mas procurando ser, conseguindo ser, sendo muito mais.
A alma dos diferentes é feita de uma luz além. A estrela dos diferentes tem moradas deslumbrantes. Que eles guardam para os poucos que forem capazes de os sentir e entender.
Nessas moradas estão os maiores tesouros da ternura humana. De que os diferentes são capazes.
Não mexa com o amor de um diferente. A menos que você seja suficientemente forte para suportá-lo depois.

Autor Desconhecido