quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Metade



Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
porque metade de mim é o que eu grito
mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
seja linda ainda que tristeza
que a mulher que amo seja pra sempre amada
mesmo que distante
porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que falo
não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
apenas respeitadas como a única coisa
que resta a um homem inundado de sentimentos
porque metade de mim é o que ouço
mas a outra metade é o que calo.
E essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e paz que mereço
e que a tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso
mas a outra metade um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
e o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso
que me lembro ter dado na infância
porque metade de mim é a lembrança do que fui
a outra metade não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
pra me fazer aquietar o espírito
e que o seu silêncio me fale cada vez mais
porque metade de mim é abrigo
mas a outra metade é cansaço.
Que a arte me aponte uma resposta
mesmo que ela mesma não saiba
e que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.
Que a minha loucura seja perdoada
porque metade de mim é amor
e a outra metade também.

Oswaldo Montenegro

sábado, 23 de agosto de 2008

uma conversa com minha sombra...



Quando estou aqui pensando tudo passa na minha pequena cabeça.
Quantas coisas a fazer, quantas coisas a deixar de fazer; vontades, desejos, realizações.
Para que serve tudo isso? Se quando as realizo (aquelas que são possíveis) a satisfação é uma coisa tão frágil que costuma se quebrar ao primeiro perder do olhar.
É para isso que servem os sonhos? Para correr atrás deles, realizá-los e depois aguardar o vazio, a sensação de voltar ao início sempre? Só mudam as caras.
Mas o mundo aí fora segue assim: a multidão faz isso, vende isso, compra isso, assiste isso. Será que existe alguma verdade nisso? Será?
Eu faço parte da multidão, então tenho que seguí-la, mesmo me achando deslocado dela.
O caminho solitário é mesmo sozinho?
Se a vida quer que eu a siga assim, por que ela me permitiu encontrar uma lacuna em tudo isso? Por que, hein? Por quê?
Aceitar seria o caminho; pelo menos é assim que dizem os mestres.
Mas aceitar o quê? Aceitar o filho da puta que não aceita o meu direito de ser do jeito que sou?
Como seria bom se cada um tomasse conta da sua própria vida! Talvez seja isso o paraíso, hahahahaha.
É, às vezes o caminho da espiritualidade deveria ser mais concreto do que efêmero.
Com Alberto Caeiro aprendo que a diferença está na natureza e não nas cousas. Com meu amigo Quintana, a saída é amar o cotidiano. Já com Clarice, não tem jeito, a coisa é triste mesmo, mas com muita poesia.
Ah, é isso aí. Precisa de um pouco de poesia para sentir verdadeiramente essa vida.
Às vezes me pergunto: Será que o melhor é viver a vida sem razão nenhuma e seguir com sentimentos descontrolados, se enfiando até o talo em tudo que aparece, mas pagar o preço, às vezes caro de sangrar, se machucar grave, mas pelo menos estar íntegro, nem que seja em uma experiência de merda? - E olha que já vi muitas pessoas fazendo isso. Quantos artistas! Será que isso os deixa mais artistas do que os outros? Será?
A outra opção seria assistir a tudo isso, como uma imagem estática, neutra, deixando as coisas apenas passarem, sem intrometer, sem interromper. O tal “observar”.
Mas com o preço que às vezes... pode dar aquela sensação de não estar vivenciando nada, sabe?
Parece que o ser humano está muito acostumado com a movimentação, com o opinar, com o julgar, com se enfiar, etc, etc, etc. E o não movimento parece ser uma coisa de outro mundo.
Não me venha com a tal historinha do caminho do meio, que eu vou mandar você tomar no cú. Pois, quando o calo aperta, a única coisa que passa na mente é fechar os punhos e dar um belo soco naquele cara chamado Deus, ou na primeira pessoa que te olhar torto, pois esse é a semelhança daquele. E o primeiro, é difícil de encontrar.
Quantas historinhas, quantas! Você poderia parar de me contar histórias, por favor?! Que eu não agüento mais! Já basta eu e a minha cabeça!
Você está certo em dizer que eu só trouxe questionamentos, mas de qualquer forma, eu não tenho nenhuma resposta.
Para a minha imagem não ficar de um arrogante, vamos fazer um combinado? Tu ficas com a tua verdade e eu com a minha. Assim quem sabe não salvamos o mundo.
Mas quem foi mesmo o infeliz que enfiou na minha cabeça que o mundo está querendo ser salvo? Quem?


terça-feira, 19 de agosto de 2008

Pó de estrelas


Segue a letra de uma música que a Larissa traduziu e pediu para postar no blog. Ela disse: "Acho ela bem linda! (pra mim ela SIGNIFICA!) tomara que pra alguns também. "

"Todos os elementos de nosso corpo e do planeta,
estiveram nas entranhas de uma estrela.
Somos pó de estrelas"

Vale,
uma vida o que sol,
uma vida o que o sol vale.
Se aprende no berço
Se aprende na cama
Se aprende na porta de um hospital
Se aprende de súbito
Se aprende de pouco e às vezes no começo ao final
Toda glória é nada
Toda vida é sagrada
Uma estrelinha de nada,
na periferia de uma galáxia menor.
Uma entre tantos milhões
e um grão de pó, girando ao seu redor.
Não deixaremos impressões digitais,
somente pó estrelar.
Se aprende na escola,
se esquece na guerra
um filho te toca a ensinar.
Está no espelho,
Está nas trincheiras, parece que ninguém parece notar
toda vitória é nada.
Toda vida é sagrada.
Um enxame de moléculas,
postas de acordo
de forma privisional.
Um animal prodigioso,
com a delirante obsessão de querer perdurar.
Não deixaremos impressões digitais,
Somente pó estrelar.


"POLVO DE ESTRELLAS" - Jorge Drexler

domingo, 17 de agosto de 2008

Sucesso

Rir muito e com freqüência; ganhar o respeito de pessoas inteligentes e o afeto das crianças; merecer a consideração de críticos honestos e suportar a traição de falsos amigos; apreciar a beleza, encontrar o melhor nos outros; deixar o mundo um pouco melhor, seja por uma saudável criança, um canteiro de jardim ou uma redimida condição social; saber que ao menos uma vida respirou mais fácil porque você viveu. Isso é ter tido muito sucesso.

Ralph Waldo Emerson

imagem:http://www.flickr.com/photos/mairarolim/2431559063/

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

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"O olho com que vejo Deus é o mesmo olho com que Deus me vê"


-Meister Eckhart

domingo, 10 de agosto de 2008

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Deus e eu a sós no espaço...
Ninguêm mais à vista...
"E onde estão todas as pessoas, meu senhor", disse eu,
A terra sob nós e o céu acima e os mortos de minha lista?
"Foi um sonho", Deus sorriu e disse. "Um sonho que parecia ser real; não havia pessoas vivas ou mortas; não havia terra, e nem céu acima, havia apenas eu nem você".
"Por que não sinto medo?", Perguntei,
"Encontrando -o aqui neste momento?
Pois pequei, sei disso muito bem existe céu, e inferno também, e será este o dia do julgamento?" "Não, eram apenas sonhos", disse o grande Deus, "sonhos que não existem mais.
Não existe isso de medo e pecado;
Não existe você... Nunca houve você no passado.
Nada existe, senão eu".
Extraido do livro: A Física da Alma (Amit Goswami, pag. 161).

sexta-feira, 1 de agosto de 2008


'Cada um que passa em nossa vida passa sozinho, pois cada pessoa é única, e nenhuma substitui outra.

Cada um que passa em nossa vida passa sozinho, mas não vai só, nem nos deixa sós. Leva um pouco de nós mesmos, deixa um pouco de si mesmo.

Há os que levam muito; mas não há os que não levam nada.
Há os que deixam muito; mas não há os que não deixam nada.

Esta é a maior responsabilidade de nossa vida e a prova evidente que duas almas não se encontram ao acaso.'

(Antoine De Saint-Exupery)